#14 - Jerry Seinfeld me ajudou a escrever esse texto
Jerry Seinfeld conta1 que um dia viu um grupo de trabalhadores bem desanimados voltando pra obra após o almoço. (Vou abrir um parêntese pra perguntar… quem volta animado pra trabalhar depois do almoço?) Então, ele dizia que mesmo assim eles estavam voltando porque o trabalho precisava ser feito e é isso que eles fazem.
Foi aí que ele fez uma relação com o seu trabalho enquanto criador. Jerry acredita que o bloqueio do escritor é uma desculpa falsa e inventada para não fazer seu trabalho. E que a melhor maneira de não passar por isso é fazer o seu trabalho todos os dias.
Um dia eu estava vendo esses trabalhadores da construção voltarem ao trabalho. Eu estava assistindo eles meio que se arrastando pela rua. Foi como uma revelação para mim. Percebi que esses caras não querem voltar ao trabalho depois do almoço. Mas eles vão. Esse é o trabalho deles. Se eles podem exibir esse nível de dedicação para esse trabalho, eu deveria ser capaz de fazer o mesmo.
- Jerry Seinfeld
Já tem alguns anos que eu preciso desenhar estampas quase que todos os dias. Não só desenhar, mas criar ilustrações que as pessoas queiram usar numa camiseta e que no final queiram pagar por isso. É o meu trabalho e preciso bater esse ponto todo dia. Não fico esperando aquela ideia chegar do nada.
Acontece das ideias aparecerem em momentos em que não estou exatamente pensando sobre isso? Sim! Mas na maioria das vezes as ideias surgem exatamente nos dias que eu sento com o objetivo de desenhar estampas. Que grande coincidência, né?
Nossa mente é uma esponja absurda que vai absorvendo todo tipo de coisa que passa pela nossa frente. O trabalho do criador é tirar toda a sujeira da esponja, organizar as coisas interessantes que encontra e tentar fazer alguma conexão entre elas. É um pouco cansativo fazer isso, mas é quando meu trabalho começa. Sabe aquela frase “Como é que eu não pensei nisso antes?” Pois é, você não pensou.
O designer Ron Miriello definiu assim seu trabalho:
Todos somos naturalmente curiosos quando temos oito anos. Mas à medida que a maioria das pessoas envelhece, elas se tornam cada vez menos curiosas, então pedem que outras pessoas sejam curiosas por elas. É disso que eu vivo.
Eu gosto muito dessa definição e até roubo pra dizer o que eu também faço.
Ninguém aqui é especial ou tem um dom. Já até escrevi um pouco mais sobre isso no texto Como não morrer tentndo ser um gênio criativo. Então esse é o nosso rolê: a gente só precisa ser um pouco curioso e sentar pra fazer o nosso trabalho. Em algum momento a gente acerta.
Foi isso que eu fiz agora. Desde domingo estou usando a desculpa do bloqueio pra não trabalhar em um texto pra essa newsletter. Quero conseguir escrever duas vezes por semana. Não é o meu trabalho, mas parece ser. Então eu sentei aqui sem nenhuma ideia do que fazer e um tempinho depois lembrei da história do Seinfeld. Agora estou aqui. Obrigado, Jerry.
Falando em escrever, comprei por esses dias o livro “Como escrever bem” de William Zinsser. Comecei agora mas já vou indicar aqui porque estou gostando demais.
Como escrever bem é mais que um manual para jornalistas, autores de não ficção e profissionais de texto: é uma ferramenta preciosa para todos que se manifestam pela forma escrita, seja numa reportagem, num livro ou num simples e-mail. Não importa o conteúdo, há sempre uma técnica para transmiti-lo da melhor forma possível, com graça e coerência.
Bjs,
Téo.